Sínodo para a Amazónia foi “laboratório do que se pretende para a Igreja e para o mundo
O teólogo Juan Ambrosio considera que a Amazónia “é um laboratório do que o papa está a pensar para a missão da comunidade cristã no mundo inteiro”.
A ideia foi deixada na palestra que apresentou na passada sexta-feira no Centro Pastoral e Social de Loulé, intitulada “Caminhos Sinodais na Amazónia. Novos caminhos para a Igreja e para uma Ecologia integral” e promovida pela Cáritas Diocesana do Algarve no âmbito do ciclo de conferências a decorrer para assinalar os seus 62 anos e os 50 anos do seu Centro Infantil.
Aquele professor da Universidade Católica Portuguesa – que durante o Sínodo especial para a Amazónia, no Vaticano, foi convidada para realizar em Roma um seminário sobre Economia, Teologia e Sustentabilidade, com o desafio de valorizar as “sabedorias” dos povos indígenas – esteve lá alguns dias e garante que a “grande intuição” que ali “aconteceu, pensando na Amazónia”, “não tem só a ver com a Amazónia”, mas “com a Igreja universal, com as comunidades concretas, com a humanidade”.
Ambrósio acrescentou que “há passos que ali se deram que serão vividos na Amazónia, e alguns serão vividos só ali, mas outros não”. “São depois para serem assumidos na comunidade eclesial”, complementou.
O orador disse que se procurou “pensar a Amazónia como um novo Pentecostes”. “A proposta cristã da construção de um mundo e de um futuro diferente tem de ser feita de maneira a que todas as línguas possam entender. Não pode ficar mais fechada num «cristianês» que já nem os cristãos percebem, mas tem que se abrir a outras dimensões, modelações, declinações, sem perder a sua identidade”, concretizou.
O conferencista realçou que essa proposta passa por um “caminho da sinodalidade” apontado pelo papa e confirmado pela assembleia realizada no Vaticano entre 6 e 27 de outubro. “É precisamente o caminho que ele espera da Igreja no terceiro milénio. Escutarmo-nos uns aos outros, decisões tomadas em conjunto. E no Sínodo da Amazónia aconteceu isso. As comunidades foram convocadas e estiveram lá presentes pastores das comunidades, representantes dos povos indígenas”, afirmou.
Juan Ambrosio sublinhou que o desafio consiste numa “Igreja convocada a escutar o que são as ânsias do povo”. “Aquilo que é pedido neste momento à comunidade cristã é também que ela tenha a capacidade de escutar a humanidade. Essas são as ânsias a partir das quais nós temos de pensar a fé. É a partir dos desafios concretos do viver das pessoas que a nossa fé tem que ser interpelada”, destacou, lembrando que a construção de “uma só família humana e uma só casa comum” também faz parte do plano estratégico da própria Caritas Internationalis.
O teólogo concluiu que o desafio passa por “pensar o centro a partir das periferias” e não o contrário, “pensar a identidade e o que é a Igreja a partir da missão daqueles a quem ela é enviada”.
Ambrosio disse ainda que a ideia de ecologia integral apontada no Sínodo “é muito mais do que uma ecologia verde”. “É uma ecologia que tem dimensões que vão muito para além da ecologia ambiental. É também cultural, política, social e religiosa, ou seja, é humana”, sustentou.
Fonte: Folha de Domingo