Presidente da Caritas do Algarve: «Não temos dúvidas que a fragilidade das famílias vai aumentar»
A Semana Nacional da Cáritas decorre de 28 de fevereiro a 7 de março. Esta iniciativa, que procura dar a conhecer o trabalho que esta instituição desenvolve em favor dos mais carenciados, tem este ano um especial impacto, que é consequência direta da crise pandémica que atravessamos e que se iniciou faz precisamente um ano.
«Desde o início da pandemia que o número de atendimentos sociais aumentou substancialmente», refere Carlos Oliveira, presidente da Cáritas Diocesana, explicando que até meados de março de 2020 «beneficiavam de apoio na Cáritas Diocesana do Algarve, de forma regular, 237 pessoas» e que, «no final do mês de maio» foi atingido «um pico de pessoas a usufruir dos nossos serviços de apoio social, 387 (mais 150 pessoas – o que se traduz num aumento de 63% face aos meses anteriores». Este aumento abandaria nos meses de junho a outubro, em resultado da retoma de algumas atividades económicas, nomeadamente na hotelaria e turismo, mas em novembro e dezembro a Caritas algarvia, voltaria «a verificar um aumento da procura» dos seus serviços de apoio social, «que foi agravado com a entrada em vigor do novo confinamento em janeiro de 2021». Pedidos de bens alimentares, apoio no pagamento de despesas de renda de casa, medicação, água, luz e gás são os que mais frequentemente chegam à Caritas Diocesana do Algarve.
«Quem já estava numa situação de fragilidade em termos económicos e sociais este confinamento veio em muitos dos casos agravar as necessidades sentidas pelos agregados familiares», esclarece o dirigente regional, salientando que «a maioria dos novos casos são de agregados familiares que viram os seus rendimentos reduzidos devido a situações de desemprego, de lay off, ou de apoio à família, que pelas suas caraterísticas, originaram perda de remuneração».
No caso do Algarve, que tem como pilar da sua economia o Turismo, a ausência de visitantes tem consequências bastante nefastas. «O desemprego na região está intimamente relacionado com o turismo e a sazonalidade. Não temos dúvidas que a fragilidade das famílias vai aumentar», defende Carlos Oliveira, apontando a necessidade do «crescimento económico para que haja retoma», situação que, considera, no Algarve «poderá arrastar-se por mais tempo devido à sazonalidade, muito centrada na hotelaria e restauração com a perda dos postos de trabalho. Infelizmente é inevitável a perda do poder de compra da população e o agravamento da pobreza». Nesta região «mais de um quarto dos desempregados são estrangeiros», ligados a atividades na área da hotelaria e restauração, que têm vindo a procurar o apoio da Caritas, sobretudo de nacionalidade brasileira.
Outro facto que tem vindo a acontecer e que a comunicação social já tem dado nota, é o acréscimo da violência doméstica e a Caritas também registou «um aumento dos casos identificados na instituição». Carlos Oliveira realça que «o problema já existiria, mas foi agravado por uma maior convivência provocada pela situação de confinamento» e que «estas situações depois de identificadas são encaminhadas para instituições que trabalham diretamente a área da violência doméstica».
Assim, a ação da Caritas encontrou expressão em diversas campanhas (Campanhas Colega a Colega, Vizinho a Vizinho e Linha da Frente Universitária), tendo havido, também, uma disponibilidade significativa dos cidadãos em apoiar as iniciativas solidárias, promovidas por esta instituição. Uma das ações com maior expressão foi a campanha “Espaços de Partilha Solidária”, através da qual foram recolhidos «donativos de particulares, de cadeias de supermercados, de uma associação de franceses a residir no Algarve, da empresa Lisgarante, da União de Freguesias de Faro (Sé e S. Pedro) e de apoios extraordinários do Município de Faro». Uma das Campanhas de maior importância foi a que se espoletou após a emissão da Nota Pastoral do Bispo do Algarve, de 15 de agosto de 2020, intitulada “Na linha da frente para vencer a indiferença”, na qual se apontava a «necessidade de reestruturação do serviço socio-caritativo de modo a que, todos, se sintam empenhados e comprometidos na resposta às emergências» em tempo de Pandemia ou em consequência dele. E continuará a dar frutos, segundo Carlos Oliveira: «A resposta da Cáritas Diocesana do Algarve perante o desafio lançado resultou num conjunto de iniciativas que possam ir ao encontro das dificuldades já sentidas, ou que possam vir a ocorrer, no serviço socio-caritativo, das comunidades paroquiais da Diocese do Algarve».
Uma das ações que seria habitual nesta semana Nacional da Caritas era a realização de um peditório, que, devido às circunstâncias, terá um formato diferente, pela segunda vez, recorrendo a instituição a uma estratégia digital e à realização online da recolha de verbas. Quem desejar participar nesse peditório poderá fazê-lo de diferentes formas: online) pelo site, por multibanco (Entidade: 777 Referência: 777 777 777) ou transferência bancária (IBAN: PT50 0045 9020 40326607708 15), ou, ainda, através de um contacto com a Linha Solidária da instituição.
Recordamos que, segundos dados oficiais da instituição, publicados no seu site, a caritas, através das suas diversas delegações regionais, apoiou em 2020 os mais carenciados com 1,5 milhões de euros, a que acresce o apoio em produtos alimentares e bens essenciais.
Este papel social decisivo foi, mesmo, reconhecido pelo Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, numa mensagem enviada a propósito da Semana Nacional e 65º aniversário da instituição, na qual afirma: «Abraço-vos a todos agradecendo estes 65 anos, sublinhando o passado, partilhando a confiança na mobilização dos portugueses, mas sobretudo, em conjunto, olhando para o futuro. Porque a vossa aposta é uma aposta de futuro. A nossa aposta é uma aposta de futuro» e salienta que a Caritas é «solidariedade, generosidade, mas proximidade», estando sempre «na linha da frente do combate aos efeitos sociais da pandemia e mobilizado, de forma discreta, meios para que ninguém fique sem resposta».
D. José Traquina, Presidente da Comissão Episcopal da Pastoral Social e Mobilidade Humana, sublinhou, igualmente, que «a missão da Cáritas – o amor que transforma – é despertar para esta solidariedade no concreto, comprometidos que estamos na transformação do mundo em que vivemos para que seja, cada vez mais, uma terra de irmãos. Para que juntos vivamos verdadeiramente numa só família humana».
Fonte: Folha de Domingo