XVIII Jornadas de Ação Sociocaritativa da Diocese do Algarve refletiram sobre a dimensão missionária
A Diocese do Algarve promoveu no passado sábado as XVIII Jornadas de Ação Sociocaritativa sobre o tema “Pobre, caminho de Missão”, com a participação de 96 agentes do setor social de várias paróquias, instituições e movimentos.
Na iniciativa, que teve lugar no Centro Pastoral e Social da Diocese do Algarve em Ferragudo, o bispo diocesano alertou que “uma comunidade paroquial pode ter uma liturgia excelente, pode ter catequistas exímios, mas se faltar a dimensão da caridade é uma comunidade incompleta”.
Manuel Quintas lembrou que “a caridade é o critério que define a ação evangelizadora da Igreja” e realçou a importância de haver nas paróquias grupos de “gente que desperta, alerta, provoca e ajuda a comunidade a viver esta dimensão que é estrutural” e “faz parte da essência do ser cristão e do ser Igreja”.
O presidente da Cáritas Diocesana do Algarve, através da qual a iniciativa foi promovida, agradeceu a presença de todos, particularmente dos membros do Conselho Central do Algarve da Sociedade de São Vicente de Paulo. “Somos Igreja e todos temos a mesma missão que é ajudar aqueles que são os mais frágeis da sociedade”, afirmou Carlos Oliveira. Aquele responsável apelou ainda à sensibilização das paróquias de que o empenho naquele setor da pastoral não diz respeito apenas aos seus grupos sociocaritativos. Carlos Oliveira, que é simultaneamente o diretor do Secretariado da Pastoral Sociocaritativa da Diocese do Algarve, na palestra que apresentou, apelou ainda à organização e articulação do serviço dos diversos grupos eclesiais que trabalham no setor social.
Conferencista foi também o padre Pedro Manuel que disse ser preciso ir além do “cuidado básico do saquinho da comida” que se fornece a quem mais precisa. “Não podemos acostumar-nos ao cuidado básico do saquinho da comida. Para além de pouco é básico e não extingue, nem sequer documenta a caridade cristã que nos faz ajoelhar diante do pobre e reconhecer nele o próprio Cristo”, advertiu o padre Pedro Manuel. O sacerdote alertou assim que a ajuda aos pobres não é “beneficência”. “Quando damos aos pobres as coisas indispensáveis não praticamos com eles grande generosidade pessoal, mas devolvemos-lhes o que é deles, cumprimos um dever da justiça e não um ato de caridade”, afirmou, sublinhando que “a injustiça é a raiz perversa da pobreza”. Por outro lado, o padre Pedro Manuel criticou a institucionalização do apoio social da Igreja. “A forma institucionalizada como, infelizmente, somos obrigados a fazer caridade, às vezes rouba-nos o essencial dessa mesma caridade que é a possibilidade de estarmos uns com os outros e de partilharmos a vida uns com os outros”, lamentou. O orador alertou ainda para um novo tipo de pobreza. “Há uma pobreza que vai ser a pobreza das relações sociais. Pode até haver trabalho, mas haverá muitas mais baixas psicológicas porque as pessoas não estão preparadas para falar olhos nos olhos com ninguém. Este tipo de pobreza aumentará porque é a pobreza da esperança”, afirmou, alertando para as “pobrezas que as doenças psicológicas” trarão ao mundo atual. A terminar, considerou que “a Igreja terá um dia de dar contas no céu acerca da forma como se preocupou com a sua aparência, enquanto outros morriam à fome; acerca do modo como se revestiu de trapos, enquanto outros morriam de frio; acerca do modo como se encheu e fez encher de títulos, enquanto outros não iam à escola”.
Já o padre Carlos de Aquino, também orador, pediu aos agentes da pastoral social que não sejam “funcionários do sagrado” nem “funcionários da Segurança Social”. “Porque somos sagrados também temos função, mas às vezes somos funcionários do sagrado”, lamentou o orador, que criticou a “caridade que cria bancas” onde “se dá o saco, mas não se toca a «ferida»”. “Este tocar a «ferida» faz parte da nossa espiritualidade”, alertou, lamentando que se possa “fazer caridade sem servir”. O padre Carlos de Aquino pediu assim aos presentes que sejam “homens e mulheres de fé”, “homens e mulheres em conversão permanentemente”, “homens e mulheres do mistério para que a vida tenha sabor” e não se tornem “funcionários da segurança social”. Neste sentido, apelou à “formação espiritual”. “Preocupamo-nos muito com a formação técnica, especializada, mas quantas vezes fazemos formação espiritual aos grupos que têm por missão, em nome da Igreja e como Igreja, comunicar o evangelho na caridade?”, interrogou, destacando também a importância da oração para a “espiritualidade cristã” de “servir os pobres como pobres” que evidenciou ser fundamental. “A oração e o trabalho. A união entre estas duas coisas é muito importante para a espiritualidade”, considerou, referindo-se a uma “espiritualidade de ternura, de graça, de misericórdia”. O sacerdote lembrou que o trabalho em rede faz parte da espiritualidade cristã. “Ainda não conseguimos em diocese organizar isto”, lamentou, sublinhando a importância de equipas que “ajudem no âmbito social da caridade a refletir, a caminhar espiritualmente, a servir melhor”.
O encontro terminou com a divulgação de um questionário que visa “conhecer o universo dos grupos paroquiais de ação social”.
Fonte (texto e fotos): https://folhadodomingo.pt/