Cáritas Europa aponta os custos humanos da crise na Europa
Sob a coordenação da Cáritas Europa foi apresentado, hoje, o segundo relatório de acompanhamento da crise com o titulo “A crise europeia e o seu custo humano” . Esta apresentação decorreu em Atenas, por estar a Grécia a presidir, neste semestre, à União Europeia. Dado o agravamento da crise na Europa, este relatório, para além de abranger a situação de Espanha, Grécia, Irlanda, Itália e Portugal alargou-se também ao Chipre e à Roménia. Na base da sua elaboração estiveram documentos oficiais, estatísticas europeias, assim como o contributo dado pelas Cáritas dos referidos países.
Neste relatório sai reforçada uma das tónicas já evidenciadas no primeiro e que aponta para a injustiça da actual situação em que são os contribuintes, a maioria deles já em condições de fragilidade económica, a pagar por uma crise que tem a sua raiz no sector financeiro. Por outro lado, a opção pela austeridade como única solução, por si só, não chega para resolver as causas estruturais da crise nem os problemas imediatos dela resultantes. A prová-lo estão os números apresentado no relatório, onde se evidencia o impacto que tem tido, por exemplo, no setor da saúde e está na génese da quebra de confiança dos cidadãos nas instituições nacionais e europeias. Todavia, os relatores continuam a debater-se com a dificuldade resultante de apenas disporem de dados estatísticos com dois anos de atraso, o que não permite uma análise mais objetiva e atual da realidade. Nesse sentido, fez-se um apelo para que se tomassem medidas de política urgente, alterando o que continua a ser previsto para a designada Estratégia 2020.
O relatório, hoje apresentado, pretende dar mais um contributo para uma reflexão que não pode ser exclusivamente económica e financeira, mas de ordem política mais abrangente, tendo em conta a necessidade de um desenvolvimento assente numa maior equidade social.
Relativamente ao nosso país, o relatório retoma preocupações já veiculadas no primeiro e faz uma análise, tendo em conta a situação existente até final do ano passado. É óbvio que algumas das preocupações evidenciadas poderão já ter sofrido ligeiras alterações. Contudo, destaca-se: o aumento galopante da divida pública que, em 2012, foi o maior da EU a 27; o apoio à recapitalização do setor bancário não se refletiu na economia real (persiste a falta de acesso ao crédito das PMEs); a atividade económica só começou a dar sinais positivos nos finais de 2013, ao contrário do que se anunciava; a instabilidade política vivida no verão do último ano que gerou reação menos positivas nos mercados; a forma como se tem procurado alcançar as metas do programa, em particular, o forte aumento tributário e os cortes salariais e nas pensões de reforma, entre outros.
O que é o Relatório Europeu da Crise
Este Relatório é uma análise aprofundada sobre a forma como a crise está a ser enfrentada nos sete países da União Europeia mais atingidos: Chipre, Grécia, Irlanda, Itália, Roménia e Espanha. Ele olha para as taxas de emprego/desemprego, os níveis de pobreza de exclusão/social, o estado dos serviços públicos em geral, e dos cuidados de saúde, em particular, e do estado de confiança nas instituições nacionais e europeias e a coesão social nestes países. Isso é feito segundo a “fórmula Cáritas”, ou seja, através da combinação dos números oficiais do Eurostat e dos institutos nacionais de estatística com a informação recolhidas “no terreno” pelos muitos grupos de centros de apoio da Cáritas existentes nos países abrangidos. Esta combinação única proporciona uma temperatura muito precisa da situação sócio-económica da população desde a classe média até àqueles que estão situações de particular vulnerabilidade.
Fonte: Cáritas Portuguesa